quarta-feira, 7 de maio de 2014

A OBRA DE CÂNDIDO PORTINARI...

Por Bia Parra



Deste muito cedo em minha vida tenho entrei em contato com a vida e a obra do grande mestre brasileiro Cândido Portinari. Isso porque íamos com muita frequência para fazenda de meu avô e Brodowski, cidade onde nasceu e, portanto tem várias de suas obras, fica bem perto.
Tenho que falar que talvez tenha sido o primeiro artista que consegui acompanhar a obra de que tenho lembrança e agora com mais compreensão de sua estética, posso verificar o quão maior é sua importância.  
Portinari é filho de imigrantes portugueses e nasceu numa fazenda de café em 1903 em Brodowski, interior de São Paulo.  Teve uma educação formal deficiente e não completou o ensino primário.

Porém sabemos que quem tem real talento, basta vislumbrar uma pequena oportunidade para fazer acontecer... aos 14 anos foi recrutado com auxiliar por uma turma de pintores italianos que faziam restaurações em igrejas pela região. Talento aflorado, aos 15 segue para o Rio de Janeiro em busca de aprimoramento na Escola de Belas Artes e logo chamou atenção de mestres e professores. Com 20 anos já participava de exposições e ganhava visibilidade, entre outras coisas pelo seu grande interesse por um movimento artístico até então considerado marginal, o modernismo.

Buscou expressão internacional e seguiu para Paris, de onde teve o distanciamento necessário para deixar aflorar suas raízes e despertar um interesse social mais profundo expresso em sua obra. Vários artistas influenciaram seu novo momento como Van Dongen e Othon Friesz. Nesta mesma ocasião conheceu Maria Martinelli com quem passou o resto de sua vida.

Em 1931 Portinari voltou ao Brasil. Sua obra estava totalmente renovada evidenciando a valorização de cores e os ideais, além de uma clara opção por murais e afrescos em detrimento de suas telas pintadas a óleo.

Muito bem relacionado com poetas, escritores, jornalistas e diplomatas, Portinari participou da elite intelectual brasileira em uma época em que se verificava uma grande mudança na cultura do país resultando no reflexo direto em sua trajetória.

Na década de 40 a consagração mundial aconteceu após Alfred Barr comprar a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expô-la no MoMA em NYC. O interesse pelo artista se tornou algo grandioso. Fez exposição solo em NYC e dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington.

Nesta ocasião, conheceu a obra que mudaria definitivamente sua estética, “Guernica” de Pablo Picasso. Quando voltou ao Brasil em realizou oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”, fortemente influenciado pela visão de Picasso de “Guernica” e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial.
Já em 1944, a convite do grande arquiteto Oscar Niemeyer, iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Por sinal o conjunto como um todo deve ser visitado, aproveite que vai para ver os jogos da Copa que acontecerão em Belo Horizonte.

O cunho político também esteve presente na obra e na vida de Portinari como a escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra presentes nas séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946.
Efetivou sua militância política filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro e candidatando-se a deputado, em 1945, e a senador, em 1947.

Já em 1948, Portinari exilou-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pintou o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo banco Boavista do Brasil.

Em 1949, fez o grande painel “Tiradentes”, narrando os episódios do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio colonial português.

A década de 50 ao mesmo tempo em que foi icônica, foi dramática para Portinari. Atendeu a solicitação do Banco da Bahia e realizou outro painel com temática histórica, “A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia”.  Expos na 1° Bienal de São Paulo com tanto destaque que teve uma sala particular e iniciou os estudos para os painéis “Guerra e Paz”, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas, os quais foram concluídos em 1956 medindo cerca de 14mx10m cada, os maiores pintados por Portinari.

Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo presente nas tintas que usava. Continuou seus trabalhos e morreu no dia 6 de fevereiro de 1962, quando ainda preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, Itália.


Aqui em São Paulo, na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, lugar que amo e que serve um chá da tarde delicioso, é possível apreciar as telas Meninos e Piões e Favela. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais (onde também tem um dos melhores pães de queijo do mundo), interior de São Paulo. São 23 obras, incluindo dois retratos, imperdíveis.

Acho que mais do que informação, minha intensão foi reviver e trazer para o presente a grande importância deste ícone da arte nacional, o grande mestre Cândido Portinari.

Um beijo e até mais.

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